GOLFE

Calouras da UnB, as gêmeas Laura e Luíza se destacam no cenário do golfe nacional

Júlio Minasi - DEL/DAC


As intensas novidades nas rotinas não alteram o jeito sereno de Laura e Luíza Caetano. Recém-aprovadas na Universidade de Brasília, elas acabam de completar a maioridade e comemoram vitórias expressivas no esporte que praticam há 12 anos: o golfe. Em meio a conquistas e novos desafios, as estudantes mantêm a simplicidade e a discrição.


“Ninguém no curso sabe que jogo golfe”, diz Luíza, matriculada em Artes Visuais. Promessa do esporte, ela venceu a terceira etapa do campeonato brasiliense há duas semanas. A igualmente reservada Laura estuda Arquitetura e Urbanismo e lidera o ranking brasileiro juvenil. No mesmo dia da conquista local da irmã, ela garantiu a vitória no Aberto do Estado do Paraná.            

 

A trajetória das gêmeas, nascidas em Belo Horizonte e criadas em Brasília, inclui algumas dezenas de títulos nas etapas do Tour Nacional de Golfe Juvenil e em torneios amadores. O talento oportunizou que conhecessem a maioria dos países da América do Sul e também os Estados Unidos e os Emirados Árabes. Confira o ranking da Confederação Brasileira de Golfe (CBG).

 

Laura lidera o ranking juvenil brasileiro / Foto CBG

Os resultados são frutos de suor e empenho. As estudantes-atletas dividem o cotidiano de treinos técnicos e físicos com os compromissos acadêmicos. “A gente está sempre estudando ou treinando. Temos pouco tempo livre”, conta Laura, que não aceita menos que a perfeição nos trabalhos da faculdade. Um dos sacrifícios da dupla jornada, segundo ela, são as férias reduzidas. Os meses de recesso das aulas costumam coincidir com alguns dos torneios mais importantes do tour.

 

“Gosto muito do curso que escolhi e também gosto de jogar”, diz Luíza, ao afirmar que a doação às duas áreas vale a pena. “Dei bastante sorte este semestre. Minha grade horária ficou concentrada na manhã. Com isso, tenho tempo para treinar à tarde”, afirma.  

 

ROMPENDO BARREIRAS – A tranquilidade com que falam dos títulos contrasta com a preocupação social de quem pratica um esporte ainda pouco acessível. Em geral, para jogar é preciso ser sócio de um clube e investir alguns milhares de reais em equipamentos. Essa não é a realidade das gêmeas. Filhas de professor e de servidora pública, elas têm situação econômica diferente da maioria das golfistas e só começaram no esporte após uma oportunidade de aulas gratuitas.

 

“Vi uma publicação no jornal sobre escolinha gratuita de golfe e resolvi buscar mais informação”, conta a mãe, Elizabete Araújo, sobre a oferta do Clube de Golfe de Brasília. Segundo ela, essa era é a única alternativa para que as filhas tivessem contato com a modalidade. “Elas se dedicaram e aproveitaram a oportunidade. Desde pequenas, as duas não têm fim de semana”, conta.  

 

A família explica que há um esforço para custear as viagens. Em alguns torneios as federações locais oferecem hospedagem e transfer para os eventos. “Além da barreira esportiva, elas romperam uma barreira social”, avalia o pai, Zenildo Caetano, que torce por uma participação das gêmeas na Universíade 2019, em Nápoles, na Itália.

 

POLÍTICA DE ESPORTE – Laura, Luíza e os pais também buscam abrir caminhos e conseguir apoio na Universidade. A família alega que nem todos os professores entendem a realidade de estudantes-atletas e defendem a implantação de medidas que garantam aos atletas de rendimento da universidade para assegurar o direito de competir. “Seria muito importante, por exemplo, que houvesse flexibilidade em datas de prova e na frequência em datas de competição”, diz Elizabete.

 

Luíza acaba de vencer etapa do campeonato brasiliense / Foto CBG

A implantação de uma política de esporte é uma demanda recorrente na Universidade, afirma o responsável pela Diretoria de Esporte e Lazer (DEL) e professor da Faculdade de Educação Física (FEF), Alexandre Rezende.  Ele lembra que já foram realizadas reuniões e audiência pública sobre o tema e informa que a questão deve avançar no segundo semestre. “Vamos realizar uma conferência sobre o esporte universitário para definirmos normas com direitos e deveres dos estudantes-atletas”, afirma.

 

A conferência, a ser organizada por DEL e FEF, está prevista para ocorrer durante a Semana Universitária, em setembro. “A ideia é construirmos coletivamente um documento, que será submetido aos órgãos superiores da Universidade”.